segunda-feira, 30 de março de 2009

MOURAZ E OS MONGES DE CLARAVAL


Decorrido pouco mais de três anos desde a sua chegada, os monges de Claraval abandonaram o mosteiro de Mouraz. Não existe informação que torne possível uma explicação plausível para tal abandono, pois, existiam localmente os recursos naturais requeridos para a prática da agricultura e da silvicultura, que eram as actividades a que se dedicava com mestria aquela congregação religiosa. Como mera hipótese, poderemos admitir que os frades terão procurado condições físicas de habitabilidade mais consentâneas com o seu modo de vida e se tenham mudado para o mosteiro de S. João de Tarouca (distrito de Viseu), visto o mesmo ter sido entregue à Ordem de Cister poucos anos antes (1144), encontrando-se na altura em fase de grande expansão, ou para o de Alcobaça, o maior mosteiro cisterciense em Portugal, cuja fundação coincide com o dito abandono. Nada se sabe acerca das características do mosteiro que existiu em Mouraz, mas os monges de Claraval preferiam edifícios robustos, austeros, despidos de elementos ornamentais e, por razões de segurança, com os espaços interiores formando um recinto muito fechado, a fim de impedir a entrada de estranhos.
Em consequência daquele abandono, D. Afonso Henriques e D. Mafalda, sua esposa, fizeram doação do couto de S. Pedro de Mouraz ao Bispo D. Odório e à Sé de Viseu, a 29 de Setembro de 1152, conforme consta na respectiva carta de doação:

«(...) ego Alfonsus rex Portugalensis una cum uxore mea domna Mahalda, regni mei consorte, testamentum facimus vobis episcopo Visiensi domn Odorio et sedi Sanctae Mariae vestrisque successoribus in perpetuum promovendis de illa hermida Sancti Petri de Monte Mouratio, unde jam testamentum et cautum feceramus quibusdam fratribus Claravallensis cenobii ».

A carta também faz referência à anterior doação e ao abandono do couto de Mouraz pelos monges de Claraval:

«Sed qui iidem fratres in propria remeuntes eundem locum desertum et pene destitutum per incuriam dimiserant, illum in solitudinem redigi et elemosinam nostram destitui, Deo donante passi non fuimus».


In Mouraz História e Memórias, António Fernando Dias de Almeida

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